02 outubro 2006

Avé

A cera funde-se a um corpo sem fé
Aspirando um suor, aos olhos bebé,
Húmida descrença salivar, é o gosto da chama,
Ainda assim ultrapassado por joelhos,
Esse sim santo pai no altar, nos braços a cama,
Embalando sexual cria, anti paternal coelho,
Una fronha para esponjosa submissão…
Tem compaixão! Obrigado, senhor! Em vão?
Ele dorme, a promessa cumpre-se e arde na pele,
Dorme embalado por murmúrios terrenos
Ascendendo ao céu entre fumos, mas imbele
Ainda dorme, no purgatório seres serenos,
Em silêncio, atiram as velas aos deuses,
Deixai-as arder…sinais de fumo, SOS, esperai…
“Mas o ouro e a prata ganharão ferrugem!”,
Ironia bíblica apunhala a coroa pelas costas,
Mas será que só eu oiço?
Hipnose de crentes à voz do pai,
As palavras ressoam nas paredes, rugem,
Mas não cá dentro, fazem cerco ao ouvido, resposta…
Zero, avé, avé, apenas por obra e graça do espírito,
Mas do espírito santo, o nosso…
Permanece ao alto atrás das muralhas de granito,
Intocável, sempre e apenas sempre nosso…
E o espírito do padre também será dele?
Acho que já foi conquistado, deixou-se pelo do santo,
Ou talvez, ou talvez apenas olhe e leia
Como um operário se repete sem encanto,
O hábito capataz do monge, talvez não creia,
E eu longe cada vez mais longe…
“Ide em paz e o Senhor vos acompanhe!”

:::samantar mohi:::
02 / 10 / 2006
(Novo poema também em www.samantarmohi.blogspot.com)